Treze da janeiro de 1953

Treze de Janeiro de 1953

Dizer que é covardia, quem há-de?

Se não te vi a face lívida,

Foi que em minha saudade,

Te queria lembrança ainda em vida.

Queria imaginar-te morta, desprezar a realidade...

Se nada há que meu espírito conforta,

Como te veria pronta pra eternidade!

Toda tristeza, este meu pranto rouco,

E a angústia desta minha prece,

Meu sentimento todo ainda seria pouco,

Para sentir-te como tu mereces...

É impossível o esquecimento;

Pra lembrar-te toda em toda minha vida,

Há-de bastar-me apenas um momento,

Sem que coisa alguma fique esquecida.

Se não surgir um raio de esperança,

Hei de ficar às tardes tão sozinho,

Sem te contar meus sonhos de criança,

Vendo tuas cãs em desalinho...

Tua imagem ficará comigo,

Como em vida, alegre e sobranceira,

Seguindo sempre para onde sigo,

Doce lembrança, minha companheira!