Busca Perdida

Agora tu vens a mim carente de um amor que já partiu. Tiveste-me nos braços teus quando deixavas o egoísmo dominar a necessidade de dá-me ao menos um pouco da tua tão rara atenção.

Viu meu solo tornar-se árido, tão quente e pálido, enquanto sobejando desatenção, me olhava de um jeito cálido de me causar repulsa. Tal como menino acalentado por doces me dava teus carinhos para calar-me a boca de ávidos queixumes.

Traçava-me os lábios com os teus lábios numa solúvel sensação de prazer e dor que desejo esquecer. Desvendaste meus segredos mais ocultos a moldes de requinte crueldade, que me fizeste sentir-me nu, diante de mim mesmo.

Tantas vezes me perdi no teu corpo, entre o instinto prazer da carne e a amargurante dor do teu póstumo descaso. Se existe carma, deixaste incidir em mim o pesar do usufruto do meu corpo. Vendi minha alma aos teus fetiches e caprichos.

Agora vens com tuas lágrimas molhar meu pranto? Por entre tantos desencantos, perdi a minha habilidade de perdoar. Agora vens relembrar o que em tese somente houve, em verdade apenas sonho e em mentira habitou nosso coração?

Prefiro que cales tuas palavras ante a minha dor asfixiante. Choras teus abusos, choras tuas demências, choras tuas inércias apenas. Meus olhos secaram de lágrimas e não posso mais chorar, como em tantas vezes te acompanhei as lágrimas.

Deixe-me ir agora! Não há mais tempo para vivermos! Não há mais nada para se ver, nem há palavras para se dizer, nem há mais frases feitas para enternecer, nem abraço para aquecer, nem os beijos para enlouquecer, nem a noite que eternize o nosso viver.