TRISTES, TEUS OLHOS

Os poemas mais tristes são os que tratam de realidades tristes. E se a tristeza existe, terá que ser mencionada, como forma de alerta. Lembro-me de uma noite que saí com um grupo de ajuda a Sem Abrigos, já agora, beijinhos à Paula Ferreira Ferreira, e um bem haja a todos os outros membros que conheci. Autênticos Anjos da noite. mas como estava dizendo, lembro-me dessa noite quando estávamos repartindo a comida que levámos e olhei de relance para um prédio nessa rua, vi as luzes nas janelas e pensei, pessoas sentadas nos seus sofás, ou à mesa a jantarem, num convivio são de familia e olhei à minha volta. Quando regressei a casa nessa noite senti um desconforto enorme naquele que é o meu conforto habitual, o meu Lar. Pouco dormi nessa noite, não com complexo de alguma culpa, mas com uma revolta que não cabia em mim e que ainda não cabe.

Ajudem, quem puder e quem quiser que se junte a grupos que têm objectivos defenidos na ajuda a estas pessoas, ou então que os ajudem dando o que puderem.

Conheço vários grupos e se forem à net descobrem muitos, posso-vos aconselhar este CORAÇÕES SOLIDÁRIOS, porque os conheço e sei a seriedade das suas intenções. Saiam da vossa zona de conforto só por um pouco e analizem os olhos de tristeza que deambulam fora, muito fora dessa zona.

O porquê de tão pouco,

para o muito,

que um Ser pode ter.

Na imagem,

no resto de quem

já foi louco.

No andar,

a incerteza,

de quem por pouco,

muito pouco,

caminha sem viver.

Abandonado,

até, por ele próprio.

Por companhia,

um néctar, já azedo.

Chora, quando consegue

estar sóbrio.

Bebe,

para se esquecer do medo.

Mendigo, Sem Abrigo,

sem pão, realidade.

Num banco de jardim

que o espera,

e, por amizade,

a única verdade encontrada,

nos olhos tristes e meigos

do seu cão.

Mundo lá fora,

que por um olhar implora,

a um Mundo indiferente,

sem tempo,

feito de gente que passa,

e que muitas vezes tapa,

os olhos ao seu coração.

António Portela

António Portela
Enviado por António Portela em 28/12/2015
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