Um outro estranho

Um outro estranho no espelho,

uma outra vida se esvaindo,

uma outra mentira sobrevivendo,

um outro limite sendo testado,

um outro marco de início ao fim,

uma outra queda do topo de um arranhacéu,

um outro tremor de alma e território,

uma outra lágrima perdida na aridez dos sentidos,

uma outra desesperança se desgarrando na noite,

um outro reflexo nas lentes do rayban,

um outro ser desumanizado de si mesmo,

um outro solitário na redoma de suas culpas,

e como isso tudo poderia não ficar pior?

como poderia uma angústia profunda acalmar tempestades?

como poderia uma bússola quebrada revelar o rumo certo?

Porque no final não existe nada que represente um novo começo,

tudo aquilo em que acreditei se foi,

tudo aquilo em que coloquei as mãos se desintegrou,

amaldiçoado sigo sobre a terra nesse infinito dos dias,

sem perdões, sem memórias, sem afetos,

só respirando pela ironia de um destino taxatório,

olhando na cegueira de minha existência o terror do porvir...