Minha sombra

Sou ríspido, espinhoso, desastrado com as palavras.

Na ausência do espelho miro no próximo

Prejulgo, inquiro, magoo, infiro, firo

São tiros no pé

Na minha sombra, no meu assombro.

Tudo isso só pertence a mim.

Sou eu o alvo.

Sou cego e surdo

E finjo ver longe

E finjo que ouço algo além de minha voz

Sou mudo

E brado bravatas nas esquinas.

Ninguém está a salvo de minha irascibilidade

Da minha ignorância pedante

Da minha filosofia de almanaque

De meu conhecimento de araque

De meus ataques,

De meus achaques

De meus achismos.

Um dos meus mecanismos de defesa

Essa forma besta de virar a mesa.

São tempos que me doem

É minha forma torta de compartilhar a minha dor.