Você vai sentir tanto medo.
De abrir a janela
e, cair no abismo infinito.
De ouvir vozes uivando no vento.
E cães  discursando sobre abandono.

Você sentir medo de elevador.
De lugar repletos de desconhecidos.
De palavras monossilábicas.
Que soaram como bruxedo.

Você virá coisas se transformar
em rimas,
em sílabas
 e, em  vogais perdidas na música
de um coral invisível.

Você vai ter uma amnésia brutal
e apagar todos os registros.
Então, o azul do céu,
lhe será inédito e lindo.

O primeiro sorriso avistado
será uma benção...
A primeira mão estendida
será um abrigo.

Não existirão mais diferenças
Nem melaninas.
Nem gêneros, ideologias ou crenças.
Todas as pessoas se aceitaram
tacitamente
Numa convenção
silenciosa e pacífica.


A mediunidade nos informará sobre a ciência.
A ciência nos informará sobre a vida.
E, a vida se traduzirá em versos,
prosa e poesia.

Teremos uma chuva de verdades
inconvenientes
E brincaremos na lama da vaidade.

Teremos um controle remoto
que nos guiará as cegas em
direção da felicidade.

Seremos obrigados a ser felizes.
Serems obrigados a ser lúcidos.
Seremos obrigados a ser atentos.
Seremos obrigados a ser humanos.

Ainda que apreciemos os robôs.
Ainda que flertemos
com a perfeição inverossímil
da engenharia genética.

Vou arquitetar um plano infalível
para sempre falhar sorrindo...

Você vai morrer de medo.
Quando perceber que tudo é previsível.
E perecível.
Que a liberdade está inscrita
em nossos corpos,
em nossas histórias
e, a mão oculta do acaso nos liberta para
fazermos sempre as mesmas escolhas.

Para sentir a mesma responsabilidade.
Para abominar
sempre a mesma insanidade.
Para sermos
sempre diversos e incongruentes.

E, na loucura nossa de cada dia.
Alimentar-se de pão e fé.
Alimentar-se de rezas e afetos.
Alimentar-se do terror poético.
Em tropeçar em palavras.
E cair na armadilha  do lirismo.

Na certeza de tantas incertezas.
Do mar que inunda a seca.
Do sol que frio ainda aquece.
E na ausência que sinto de você
e finjo que não percebo.
O inconsciente monitora tudo,
registra para aterrorizar depois.


 
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 18/07/2016
Reeditado em 18/07/2016
Código do texto: T5700998
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