Sem título
Causo medo ao medo que me causa.
Nessas viagens vazias, sombras rotas sob meus passos.
Arrasto um milhão de pedaços de memória
Por entre ruas roídas pela luz vadia da noite.
Nenhuma esquina oferece amor gratuito,
Somente estes pedaços de carne... a carne do medo,
O medo assim desvelando minha memória azeda.
Quem sabe seja ela por aqui em cada prédio morto,
Carregado de pó.
Ela, sim, me olhando igualmente azeda de uma estrela
Que se esqueceu de surgir.
Ela, com suas flores azuis roubadas do céu.
Esta ladra! Esta que me rouba a paz a cada olhar,
A cada falta de ar, quando respiro o veneno
Daqueles que somem diante de mim;
A cada idéia de liberdade sem documento assinado.
Esta ladra, que com facas em chamas,
Me retalha a roupa de ainda ontem.
Então...
Seguiria, se meus bolsos não estivessem furados
E se encontrasse por aí o meu rumo.