epílogo lilás

o céu lilás

repleto de pequenas nuvens

brancas, pálidas

esparsas

a revelar a tarde morrendo

os pássaros em revoada

procurando abrigo, água e

alguma paz

imersa naquele imenso lilás

a flor do campo

que brotou brutalmente

bem em cima da pedra,

num chão árido,

e tórrido

aonde não seria possível

nem brotar pensamento

no mais denso nevoeiro

onde sombra e luz se confundem

formam imenso túnel

embaçando

a visão, sentidos

e confundindo os medos

o choro compulsivo,

o soluço e a tristeza

de perder um amigo

um copo de café quente

forte, negro

vindo do pilão dos escravos

a ladainha das lavadeiras

e o rio com seu cochicho

a sibilar segredos de

quem tanto trabalhou

é hora de morrer

é hora da perda

de se enterrar

um corpo

é hora do desenlace da alma

mas nada irá sufocar as

lembranças, o afeto

o brilho do olho do amigo

que lhe estendeu a mão,

que lhe sorriu

que lhe confortou

numa dor, num tropeço

ou num desatino

é hora de morrer

sob esse céu lilás

e os pássaros arribaram todos

depois que lhe cobriram a

cova

as flores murcharam um pouco

a pedra perdeu seu brilho

e a fenda da solidão

arreganhou-se mais um pouco

para abrigar mais uma ausência

ou mais imagem que será

apenas saudade

que tristeza é vê-lo partir

mas que alegria é vê-lo

caminhar para luz,

a luz de todos os dias,

de todos espíritos bons

a luz que nutre de esperança

o epílogo da vida.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 21/07/2007
Código do texto: T573223
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