Nossa tristeza
Que diria desta Maria sem graça,
Calada por detrás do vidro,
Com seu rosto gasto pelo tempo?
Suas silhuetas deformadas num vestido amarelo;
Suas mãos perdidas nos braços cruzados.
Maria assim sem ser aquela Maria de antes,
Que mexia os lábios sonoros para música.
Aquela Maria, mãe de sei lá quantos filhos,
Trazidos ao seio vivo de Maria.
Que diria desta Maria, perdida na paisagem cinza,
Em frente à jardineira não menos cinza,
Com suas flores dolorosamente desbotadas...?
Que diria da Maria por detrás do vidro,
Muda, já morta há mais de um século,
Ainda me olhando triste,
Como se quisesse falar algo,
Como se me pedisse?
Mais um século apenas, Maria,
Para te dares o gosto de nos diluirmos no tempo,
Os dois, juntos, já que por hora
Ficamos assim, retidos cada qual em sua moldura.