O Risco que Fere, a Febre que Mata

Ó maldita hora essa, essa que me assalta e me reporta

Que me toma de súbito desatino na memória de amores gris.

Ó ventania de palavras fúteis ante ao inevitável contradito

Que me isola do afortunado, me lança remetendo-me aos berros.

Ó noite fria de luar silente, esse brilho que já não me aquece

Que me toma por louco te olhando em monólogo lamuriante.

Ó brisa, eutanásia de acordes dissonantes nesse braço, nessas cordas

Que fazem chorar à miúde em pouco e longas lágrimas de uma dor.

Ah! Esse riso pequeno, quase por entre os dentes

Esses olhos quase fechados, quase abertos quase sem nada querer.

E essas palavras um tanto periféricas, parecem nada dizer, mas dizem tudo

Me fazes crer que nada é poder diante do desejo que tenho de você.

Acamado, quase a enfermar de paixão, quisera fosse seu todo o meu coração

Quisera fosse a dona, senhora de meus aloés egípcios e me adornasses para ti somente

Mata-se! Fere adentro, bem fundo na alma, no pensar, no deleite

Ó corpo aquentado de mim, quem saberá dos teus gemidos ao luar?

Não vimos a sorte, o malfadado beijo que nos trouxe o fim

Agora minha voz ecoa no tempo, na memória e se perde pelo ar na certeza que ardemos para nunca mais uma vez.