Identidade

Olho no espelho

E vejo refletidas,

As marcas da idade.

Foi-se o tempo,

Foi-se a vaidade

Restam os traços

De um pássaro caído.

Marcas negras

Abertas com faca, uma a uma.

A pele já não tem mais viço

Como outrora.

Os músculos rijos

Impedem o movimento.

A morte apresenta-se

Como refúgio.

Um jazigo para descansar

O corpo cansado da labuta.

Eis o último desejo:

- que o sangue se coagule em minhas artérias, ao juntar-se com a pólvora exploda e se transforme em milhares de partículas insignificantes.

- que o corpo não responda aos comandos do cérebro podre, onde a massa cinzenta evapora e se dissipa no ar.

- que ao escarrar os restos do cigarro preso em meu pulmão negro, seja dado o último suspiro.

Não, não posso vê-la.

Não são escuras suas vestes,

Não é amargo o seu gosto.

Não traz consigo dores

Não machuca a pele

Não fecha-me os olhos.

É tão doce que acalma

Alva como a lua no céu.

Tem aromas frescos de flores

E beija-me como apaixonado.

Um corpo frio

Num leito azul.

Tão sereno,

Sua face resplandece em luz.

E por dentro necrófagos

Se alimentam da alma.

Alma que não mais existe.

O que a roubou não foram os anos.

Foi o sonho de vivê-los.

Jhenniffer Muniz
Enviado por Jhenniffer Muniz em 10/09/2016
Reeditado em 10/09/2016
Código do texto: T5756140
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