ABORTO DA MORTE

ABORTO DA MORTE

Não, não, não fui projetado, sonhado, nem desejado. Sou um aborto da morte, rejeitado pela vida ao nascer; Para viver, morrendo, sem nem mesmo poder aspirar, humanamente viver.

Onde fica minha África ancestral, onde posso sonhar meus pais? Não tenho passado! Onde devo apoiar minhas mãos cansadas, um abrigo? Não tenho Irmãos, Parentes ou Amigos. Em minha frente somente os NÃOS.

Me restava poder sonhar, mas isso também não posso, tenho que contar as pedras, todos os dias, o dia todo, sem parar, sem parar, sem parar… Pedras que me atiram na cara, que me ferem, por eu está desprotegido e só. Alguns nascem e vivem os sonhos, dos pais, dos outros: Vivem! Eu, apenas sofro; E esse pesadelo de vida, me faz cada vez mais descer, descer, descer; sobrevivo, na escura noite, com os vermes, famintos pelo meu fim. Ah, se ao menos eu pudesse sonhar… Mas isso, também, eles tiraram de mim.

Releitura de Emparedado, que fala em preconceito racial, do genial Cruz e Sousa, poeta NEGRO, um dos três maiores poetas simbolistas do mundo. 1861- 1898.

Ivan Yóv Rodrigues
Enviado por Ivan Yóv Rodrigues em 11/03/2017
Reeditado em 12/03/2017
Código do texto: T5938165
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