Elegia 2016
Vês isso, meu caro?
Veja como está o mundo,
não podes salva-lo.
Os homens continuam os mesmos,
senão piores.
Matam-se banalmente,
vivem sempre descontentes
por não terem tudo o que querem.
Destroem a natureza,
permanecem na torpeza
e esperam receber algo bom em troca.
Enriquecem com o sofrimento alheio
Continuam numa busca sem freio
Por algo que preencha um vazio sem fim.
O que tanto assusta
É ver em ação
Uma justiça tão fajuta.
O que ainda mais assusta
É ver que o mal é tão rápido
quanto um guepardo
E o bem anda a passo de tartaruga.
Reservam um dia para o bem
Outros cem dias para o mal.
Uma alegria tão efêmera
Uma melancolia costante
É como se carregássemos nos ombros
O peso de um elefante.
Nunca o futuro esteve tão incerto
Vejo rios secando,
espécimes desaparecendo,
florestas transformando-se em desertos.
Chega uma hora que não existe mais pranto.
Não porque não haja motivos
E sim porque não se há mais lágrimas para derramar,
as lágrimas secaram.
De um canto a outro o que se vê
são olhares taciturnos,
semblantes abatidos
Em face dos problemas do mundo.
As doenças não cessam,
encontra-se a cura para algumas,
surgem outras piores.
A fome não cessa,
mesmo com os abundantes recursos do planeta,
a distribuição é sempre injusta
Crianças comem grama na África.
As guerras não cessam
- Platão citou com exatidão.
Só os mortos verão o fim delas.
Um bom senso escasso
Uma ignorância sempre presente
Tornou-se sinal de sanidade
Não se estar bem habituado
À uma sociedade doente.
Corrupção, assassinatos, estupros, tragédias naturais
Estampam com enorme frequência
As manchetes dos jornais.
São tantas coisas que nos entristecem,
Que as coisas boas que acontecem
quase não surtem mais efeito algum.