Círculo odioso
Eu costumava odiar as segundas-feiras.
Passei a odiar também as terças.
Quando dei por mim, já odiava a semana inteira.
Eu costumava odiar o meu trabalho.
Passei a odiar o meu chefe.
Quando dei por mim, já odiava também os outros funcionários.
Eu costumava odiar os erros,
os defeitos das outras pessoas,
sem me dar conta dos meus.
E quando finalmente os reconheci,
passei a odiar a mim mesmo.
Pouco a pouco todos os bons sentimentos,
as virtudes que em mim habitavam,
foram sumindo, desvaneceram-se;
até se tornarem imperceptíveis.
De tanto lutar contra monstros,
acabei me tornando também um monstro.
O quão difícil é amar aos outros
quando não se tem amor nem
por si mesmo.
O ódio me tomou por completo
levando-me à beira do abismo;
de onde só o amor em seu
grande esplendor e longanimidade
poderia resgatar-me.
Mas já era tarde demais.
Eu já havia me precipitado
em um abismo sem fim.