Círculo odioso

Eu costumava odiar as segundas-feiras.

Passei a odiar também as terças.

Quando dei por mim, já odiava a semana inteira.

Eu costumava odiar o meu trabalho.

Passei a odiar o meu chefe.

Quando dei por mim, já odiava também os outros funcionários.

Eu costumava odiar os erros,

os defeitos das outras pessoas,

sem me dar conta dos meus.

E quando finalmente os reconheci,

passei a odiar a mim mesmo.

Pouco a pouco todos os bons sentimentos,

as virtudes que em mim habitavam,

foram sumindo, desvaneceram-se;

até se tornarem imperceptíveis.

De tanto lutar contra monstros,

acabei me tornando também um monstro.

O quão difícil é amar aos outros

quando não se tem amor nem

por si mesmo.

O ódio me tomou por completo

levando-me à beira do abismo;

de onde só o amor em seu

grande esplendor e longanimidade

poderia resgatar-me.

Mas já era tarde demais.

Eu já havia me precipitado

em um abismo sem fim.

Heverton Ferreira
Enviado por Heverton Ferreira em 08/06/2017
Reeditado em 05/07/2019
Código do texto: T6021904
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