Vivo em uma bolha

Com o falecimento dos meus "pais",

foi-se também, o meu eu onírico,

sucedeu-o, alguém mais prático, realista, cético mas de certa forma empírico.

O trem balada da vida de onde sou passageiro, fez o meu mundo desmoronar, levando os personagens principais.

Minha memória, privilegiada, é uma inimiga voraz e me trai.

Lembro de tudo, cheiros, olhares, sorrisos, conversas, afagos, passeios, tristezas, conselhos, semblantes e todo o tipo de experiências que vivenciei com eles ao longo dos anos. São essas lembranças que mesmo na maioria das vezes se resultam em precipitação chuvosa oriunda dos meus olhos, em tal quantidade, que seriam capazes de acabar com a estiagem no Brasil todo, mesmo nas piores épocas, mas que também afloram cada vez mais o meu "eu lírico".

Ninguém baterá tão forte quanto a vida, porém, não se trata de quão forte pode bater, se trata de quão forte pode ser atingido e continuar seguindo em frente e assim a vitória conquistai.

Enquanto a saudade não passa, eu versifico. Todas as lembranças já referidas, fazem com que eu me sinta um "homem rico".

Minha vida se transformou em um espetáculo de MMA,

tenho vivido entre "knockdowns" e nocautes,

os duros golpes, me deixam sob constante blecaute.

Desde o último falecimento, eu vivo cambaleando e não consigo mais me levantar e tão pouco permanecer de pé,

eu perdi a fé.

Minha luta tem sido contra um mestre da capoeira,

mestre em um golpe só a rasteira.

Dessa forma eu fico apenas "no chão."

Porque no final das contas, tudo que mais me importava, eu não posso ter mais.

"Você não acredita no que vê, vê aquilo em que já acredita, rejeita informações que contradizem o que já decidiu acreditar, sejam suas crenças ou não, baseadas em fato ou fantasia."

Desde que eu li essa frase, tenho vivido sob essa premissa.

Ela tem me "cegado", fazendo eu viver, de certa forma em uma bolha, rejeito a opinião de todos a minha volta, mesmo que em algumas vezes, possam ter razão.

Preciso mudar o disco, virar a página, reescrever a minha história em outra folha.

Tamanha foi a minha decepção

que já não quero nem mais ouvir e tão pouco saber.

Fugir não é opção, pois onde quer que eu vá, levarei tudo comigo, pois está tudo entrando no meu coração.

Atrás de novos ideais decidi que hoje e todos os domingos mais, irei a missa,

pois cansei de ir ao sítio em busca do que não posso mais encontrar.

O meu código fonte pifou e precisa ser reescrito,

mas quando eu olho para o infinito,

observo que as coisas do mundo não me interessam mais.

Gui Machado
Enviado por Gui Machado em 25/06/2017
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