O Despertar da Morte

Tudo que absolutamente sou e que ainda serei

Inevitavelmente será findado por um acidente fatal,

Ou por um câncer, ou por um ataque cardíaco.

Residirei então em fotos até que elas apodreçam,

Depois, nas memórias dos que me amam, até que envelheçam,

E descansarei na imensidão do nada como se nunca tivesse existido.

Espero o fim dividindo o começo com pessoas que detesto,

E em lugares que me sufocam, entrego os meus melhores dias,

Para ter como pagar, para ter o que comer,

E assim, sobreviver para ter de conviver com pessoas que detesto,

E entregar os meus melhores dias em lugares que me sufocam,

Para ter como pagar, para ter o que comer...

Sabendo que não sou nada e que nada serei por toda a eternidade,

Me contento com as pequenas coisas mundanas,

Que dentro do meu nada,

São as únicas coisas verdadeiramente infindas.

Matamos por medo da morte,

Assim como nos escondemos em carros blindados,

E que quando ligados derretem as calotas polares e queimam o oxigênio,

Ou quando, por medo do sofrimento, abrimos mão de um grande amor e sofremos do mesmo jeito.

Não tenho medo da morte, acho até que ela seja poética,

O que me apavora é a separação que ela carrega.

É a incredulidade do adeus, é a espada no coração da esperança,

É o “nunca mais” manifestado em um corpo pálido e gélido,

É a interrupção dos amantes no apogeu dos “uis”,

É o fim inconvenientemente maldoso no apagar da luz.