Enquanto houver estrelas.

Viver a vida

E enquanto vivê-la

Tentar não permitir

Que nada ou ninguém

Transforme a vida da gente

Num solo infértil e infecundo

Parecido com o lugar

Que por não ter

um nome a lhe dar

Chamamos de Mundo

Nosso insólito lar

Sem saber de verdade

O que fazer dele ou da vida.

Viver é a parte complicada

Sofrida e difícil da existência

Tudo mais vai se tornando fácil

Conforme a experiência adquirida

Desde que a gente não queira

a qualquer preço

Exigir-lhe alguma meta

Nem que seja necessário dar a ela

Norma ou forma

Pra depois, infeliz, vivê-la

Pelo mero fato de viver

Pensamento

Abstratamente concreto

Piorando a essa pálida passagem

Bólide sem rastro

Nave que flutua suave

Com o vento a soprar-lhe o mastro

Se puder pedir

Eu imploro

Ao Maestro dessa sinfonia

Não permita

Que a vida se transforme

Num problema grave e sem saída

A vida é só isso

E mais nada

Um compromisso com Deus

Se houver razão pra estar em paz

Agradeço ao Poeta que escreveu a vida

Sem meta, direção ou seta

Nem justa ou injusta medida

Portanto, enquanto houver

Estrelas pra ver no Céu

Aproveito a chance de olhar pra elas

Um dia há de restar

Somente a lembrança

do quanto um dia foram belas.

Edson Ricardo Paiva