Sal
Hoje sou sal...
Sou essa acidez que arde, que queima, que corrói
Sou esse desconforto sobre a língua
Sobre a úlcera da palavra escrita, do discurso mudo
Sobre a ressaca do mar que determina o meu 7° dia
Sobre a questão do amor/ódio - irmão iguais
Sobre o pútrido beijo que derrete na sarjeta
(A de morrer em cada esquina um casal)
Sobre a centelha do fogo da paixão enganosa
Sobre o punhal que fere, que marca, apunhala a mão
Sobre o dilema do adeus sem dedos
Da boca sem língua,
Da paisagem sem cor,
Da luz que é cega e fria no colo da amada
Sou do amor e da dor...
Do amor, que suscita o lirismo de uma alma transparente
Da dor, que reproduz o sal que transpira dos olhos ocultos
Hoje sou sal...
Sou a acidez da parede, que modifica na sombra
Sou a penumbra do teu corpo esquecido
Que ama, e chora na hora exata do último beijo
Hoje sou sal...
Hoje sou...
Hoje.