O colecionador de infortúnios
Debruçado sobre uma mesa
Tomando café às onze e meia da manhã
Sem perspectiva alguma de vida
O semblante denotando tamanha tristeza
E no peito, várias feridas.
Permanecem ocultos
Os mais terríveis segredos
Os meus desejos mais sublimes
São consumidos pelo medo.
Mergulhado em reflexões
De meu espírito absorto
Começo a achar
Que talvez o amor
Seja privilégio de poucos.
Nunca cumprindo
Aquilo que a mim mesmo prometo
Sempre cumprindo
Aquilo que prometo aos outros
E quando eles estão todos bem
Quem me resgata do fundo do poço?
Bato à porta, mas não abrem
Falo, mas não entendem
Grito, porém não escutam.
Semelhante a um velho urso
Que hiberna no fundo
De uma caverna escura
Acostumei-me ao isolamento
Acostumei-me à miseria
Ao desalento.
E não importa o que eu faça
Não importa o que quero
Não importa o que eu diga
Nunca saio da estaca zero.
Outrora tão otimista
Agora tão pessimista
E há quem diga
Que o inferno não existe.
O meu espírito de luta
É esmagado pelas tribulações
Há muito tempo que vivo
atrelado à desventura
E são por essas e outras razões
Que não consigo enxergar
Uma felicidade futura.
Mas toda vez que penso que não há mais jeito
Toda vez que acho que é o fim da linha
Me vem uma esperança tola
E me vivifica.
Ah, como a vida é pétrea!
A vida é deveras incerta
Semelhante a um náufrago
Que vaga a esmo em uma ilha deserta
Uma busca constante
Uma batalha perpétua.