O colecionador de infortúnios

Debruçado sobre uma mesa

Tomando café às onze e meia da manhã

Sem perspectiva alguma de vida

O semblante denotando tamanha tristeza

E no peito, várias feridas.

Permanecem ocultos

Os mais terríveis segredos

Os meus desejos mais sublimes

São consumidos pelo medo.

Mergulhado em reflexões

De meu espírito absorto

Começo a achar

Que talvez o amor

Seja privilégio de poucos.

Nunca cumprindo

Aquilo que a mim mesmo prometo

Sempre cumprindo

Aquilo que prometo aos outros

E quando eles estão todos bem

Quem me resgata do fundo do poço?

Bato à porta, mas não abrem

Falo, mas não entendem

Grito, porém não escutam.

Semelhante a um velho urso

Que hiberna no fundo

De uma caverna escura

Acostumei-me ao isolamento

Acostumei-me à miseria

Ao desalento.

E não importa o que eu faça

Não importa o que quero

Não importa o que eu diga

Nunca saio da estaca zero.

Outrora tão otimista

Agora tão pessimista

E há quem diga

Que o inferno não existe.

O meu espírito de luta

É esmagado pelas tribulações

Há muito tempo que vivo

atrelado à desventura

E são por essas e outras razões

Que não consigo enxergar

Uma felicidade futura.

Mas toda vez que penso que não há mais jeito

Toda vez que acho que é o fim da linha

Me vem uma esperança tola

E me vivifica.

Ah, como a vida é pétrea!

A vida é deveras incerta

Semelhante a um náufrago

Que vaga a esmo em uma ilha deserta

Uma busca constante

Uma batalha perpétua.

Heverton Ferreira
Enviado por Heverton Ferreira em 05/11/2017
Reeditado em 13/12/2017
Código do texto: T6162638
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