Sonhos no fim do mundo
Eu disse uma palavra na escuridão
Os lábios desérticos murmurando mais pareciam buscar o ar inexistente
Tentava pensar em voz alta, tentava fazer meus pensamentos existirem
Pois não consigo transformá-los em ação.
Tudo o que eu fiz na vida foi abandonar coisas, ou deixar que elas me abandonassem
Em vez de escolher, fui arrancando minhas opções de mim, como pétalas
E ao puxar cada uma delas, dolorosamente, uma letra do meu nome sumia.
São tantas perdas a escolher quanto escolhas a perder
A única coisa que ganho são fantasmas do que poderia ter acontecido
E nunca a coisa em si.
Eu estou perdendo todos os meus poemas. Eles saem pela porta
Seria um pouco menos doloroso se eles me dissessem adeus.
Está ficando tarde, me deixe voltar para casa
Casa... que casa? Ela não existe mais
Se desfez gritando e se misturou à poeira das sombras de sonhos perdidos no fim do mundo
Esse mundo que levou a minha ação, o brilho morto de meus olhos, a minha respiração compassada
O ar é de pedra e as horas dobram o aço a cada segundo de fogo.
Mãe, você está aí?
Tem alguma coisa embaixo da cama que está comendo a minha vida
Ela morre de fome, mas sua paciência é como um mundo silencioso
Ela mastiga tão suavemente que por vezes acredito que está beijando a minha carne.
O tempo fincou suas raízes na minha face, ela envelhece
Enquanto o peito pesa com uma tonelada de feitos não realizados
Eu permiti isso.
Ontem o meu espelho apareceu rachado
Mostrei à minha mãe e ela disse: "é só o seu rosto"
E hoje encontrei pedaços do meu rosto espalhados pelo chão.
Eu lanço minha mão no vazio, esperando alguém, me guie por favor
Alguma coisa a pegou. Eu estou indo
Está acabando. Eu não tenho mais os meus medos
Pois são eles que têm a mim.