Precisamos de autorizações.
Autorização para nascer.
Não basta a nidação do óvulo.
Não basta toda a gestação.
E, enfim, o nascimento.

Precisamos romper o pulmão virgem
com a primeira golfada de oxigêncio.
Precisamos de autorizações

Autorização para morrer.
Não basta envelhecer.
Cair os pelos e cabelos.
Cair os dentes.
Ficar fraco, manco, cego ou surdo.
É preciso ter misericórdia.

As feridas não fecham.
Os olhos abrem mas já não enxergam.
Vegetamos sem vaso e
sem primavera.

Então, precisa-se de
autorização para morrer...
Permite-se.
Admite-se.
Mas, como dói.

O fim consentido.
Aplacentado de lágrimas.
Gotas virulentas
e puxam outra gotas.

E, que não me fazerm lembrar
de Ouro Preto.
De Minas Gerais.
Do barroco castiço.

No negro de olhos, pelos e
fidelidade retilínea.
 
Autorização para morrer.
Autorização para a eternidade.
Para crença nefanda de que
nada tem fim...

Continuam por reticências.
Continuam em alma e em essência
A espalhar na cidade
um aura espessa de significados.
 
Você não morreu.
Morrerá comigo.
Quando eu me for.

Quando eu finalmente parar de existir
E todas as palavras forem poéticas.
E todas as concessões poéticas.
Todos desvarios forem líricos
Que excedem a capacidade
de estar, ser e existir.
 
Autorização para morrer.
A autoridade não é minha.
É da finitude da vida.
Mas, nunca do afeto.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 29/01/2018
Reeditado em 12/03/2018
Código do texto: T6239695
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