Sôfrega Morte

Catedrais imensas e vazias

Catedrais frias de solidão

Catedrais onde vivia

A mais triste e minha desilusão.

Arcos já abandonados e esquecidos

Arcos cujo tempo deixou a marca

Arcos machucados e enegrecidos

Onde essa dor nunca acaba.

Catacumbas subterrâneas

Que guardam ossaturas esquecidas

Catacumbas que cheiram a morte

Imensamente sombrias.

Corredores longos e inacabáveis

Corredores taciturnos por natureza

Corredores sem portas ou saída

Que rumar por eles é minha sina.

Esquadros, réguas e compassos

Para a medição numérica exata -

São estes os instrumentos do arquiteto

E os meus são tão só a mágoa.

Saio à rua e vejo um castelo...

Castelo de tempos remotos e áureos

Castelo hoje arruinado

Negro como a minha alma.

Tal como a arquitetura das coisas

- Humanamente projetada -

Sofre o meu coração de um pesar terrível

Que outro humano me causara.

O tempo passa e tudo consigo leva

Ceifador supremo da matéria

Dissolve povos e impérios,

Mas só não dissolve a minha miséria...

Dei o meu coração em uma bandeja,

Dei a ti esperando a eterna glória;

Provou-me ser tudo efêmera ilusão

E então caí como Troia!

Sôfrega e impetuosa morte

Que se espreita à minha janela

Vem assolar o meu coração vazio

Como a peste e a fome assolaram a Terra.

Necrófago
Enviado por Necrófago em 13/02/2018
Reeditado em 10/07/2019
Código do texto: T6252265
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