Sôfrega Morte
Catedrais imensas e vazias
Catedrais frias de solidão
Catedrais onde vivia
A mais triste e minha desilusão.
Arcos já abandonados e esquecidos
Arcos cujo tempo deixou a marca
Arcos machucados e enegrecidos
Onde essa dor nunca acaba.
Catacumbas subterrâneas
Que guardam ossaturas esquecidas
Catacumbas que cheiram a morte
Imensamente sombrias.
Corredores longos e inacabáveis
Corredores taciturnos por natureza
Corredores sem portas ou saída
Que rumar por eles é minha sina.
Esquadros, réguas e compassos
Para a medição numérica exata -
São estes os instrumentos do arquiteto
E os meus são tão só a mágoa.
Saio à rua e vejo um castelo...
Castelo de tempos remotos e áureos
Castelo hoje arruinado
Negro como a minha alma.
Tal como a arquitetura das coisas
- Humanamente projetada -
Sofre o meu coração de um pesar terrível
Que outro humano me causara.
O tempo passa e tudo consigo leva
Ceifador supremo da matéria
Dissolve povos e impérios,
Mas só não dissolve a minha miséria...
Dei o meu coração em uma bandeja,
Dei a ti esperando a eterna glória;
Provou-me ser tudo efêmera ilusão
E então caí como Troia!
Sôfrega e impetuosa morte
Que se espreita à minha janela
Vem assolar o meu coração vazio
Como a peste e a fome assolaram a Terra.