Marielle, minha filha, você não sabia?
Comecemos por Jesus,
sem nenhum sinal da cruz
e sem apelo religioso também.
Gandhi, Lennon, Chico Mendes
ou até o próprio Tiradentes.
Paz e igualdade são sonhos inalcançáveis.
Favelas existem e arrodeiam o mundo
e algumas até piores que a da Maré.
Nós simplesmente sobrevivemos do que sobra,
isso quando os abutres não chegam antes.
Michel e Gilmar,
se mostraram consternados,
justamente eles que são pais do menor abandonado
e exatamente contra quem você lutava.
Pura hipocrisia e fora da maré, Marielle,
há algo bem pior que a simples maresia,
porque essa só corrói os metais.
Armas letais, intenções desiguais
e a paz dos cemitérios,
depois do horror dos necrotérios.
Favelada, negra e mulher.
Três pecados num só
e que dó, Marielle, por sua ingenuidade.
Você vai deixar saudades,
mas eu particularmente,
prefiro uma menos macabra
e que bom se pudéssemos dizer:
A-BA-CA-DA-BRA e você voltasse.
Mas lamento lhe informar,
que o milagreiro também foi corrompido,
pelo mesmo bandido,
que já havia falido os hospitais.
Não se trata de frieza
e por isso peço perdão aos seus pais.
É só uma questão,
de crer que até por trás de toda revolução,
há interesses escusos
e é por isso mesmo que me recuso,
a morrer pelos outros.
Alguém disse que se pode matar uma flor,
mas que nunca se acabará com a primavera,
enquanto um outro zé ninguém falou,
que o mundo é assim desde que é mundo
e que quem tentou mudar,
morreu.
Quem é que está com a razão?
Eu não sei, não!
E se para onde você foi,
os médicos estiverem em greve,
quem é que vai cuidar de você?
São muitas as teorias e das mais diversas.
Verdades são muitas também e das mais perversas.
Eu só sei, jovem Marielle,
que enquanto eu puder voltar pra casa,
eu vou sim, querer voltar.
Política é para quem não tem estômago
e agora nem mais vida você tem.