Me maltrataram por aqui
Porque o rancor
É como a morte
Sem gosto
Nem cheiro
Sem dor e forma
Um pensamento e só
Pesado como uma âncora
Arrebentando tudo
Até te fixar
No fundo do poço
E o rancor
É como a morte
Silencioso, libera a emoção
Aos poucos
Goles pequenos
De saudades volumosas
Um remorso incontrolável
Antes matei, mas também morri
Agora parece estável
Sinto que respirei
Mais de três vezes
Sem engasgar o compasso
Posso me levantar
Porque o rancor
É como a morte
Maltrata o coração
Arrancando todos os dentes
Deixando somente pele
Pele e ossos se embrulhando
Barulho de adaptação contínua
Seguindo em frente
Até apontar um banco
Agora é cinza
A calmaria da conformidade
Tomando conta
Dos membros estáticos
Subindo de vez em vez
Por leves arrepios
Parece que sobrevivi.