Senhora Celofane

A dor me acompanha 24h por dia

Ela é minha eterna companhia, minha bondosa vizinha, que a noite vem me visitar

Ela mora em meu peito, no buraco que ela criou

Nesse buraco não nasce flor, nem bondade e nem amor

Ele cresce e se alimenta, deixando um vasto rastro de dor

Essa dor é tangente, crescendo dentro da gente, fazendo você morrer ainda que vivo, chorar ainda que sorrindo, ficar ainda que partindo

E olha que partir eu já tentei, mas por 3 vezes falhei

Cheguei a acreditar, que nem a morte me queria… mas acho que ninguém gostaria dessa casca vazia, transbordada de apatia.

Esse ser que olho no espelho todos os dias, com esmalte nas unhas e tinta nos cabelos, pra esconder a marca do desespero, por perceber que por mais um dia acordou sem querer

Ela traz em seu corpo, corte nos braços e nas coxas

Tentativas frouxas de sentir algo, qualquer coisa

Ela precisa sentir, porque se não pra que existir?

Eu sinto que não deveria estar ali

As pessoas estão sempre coloridas e eu em preto e branco, num filme mudo e monocromático eu finjo e encanto, encenando meu maior papel

Nunca pensei que o protagonismo seria um fel

Eu sorrio e aceno, como toda essa gente, me faço de demente pra me encaixar num padrão, os padrões deixam as pessoas contentes

Os patrões seguem sorridentes, tudo fica diferente, tudo fica fácil, porque gente infeliz é um troço chato, difícil de aguentar

Por isso me tranco em meu quarto, dilacero alguns pedaços, lá se foi outro corte nos braços… mas tudo bem, o que importa é agradar os outros, com um sorriso no rosto, lhes dizendo tudo que lhes convém.

Prazer meu bem, isso é o que pra hoje tem.