Alzheimer

Sou eu, imaginação

Sem postura social

Prosador em decomposição

O poder do enfraquecimento

Dançarino sem compasso

Ao ritmo das letras

Que escapam pelas batidas da inacção

O processar da mente

Escritas sem democracia

Cogitação - acção - sublevação

O andar da dor apaga

As pisadas da criação

Tragam-me flores, chorem já

Não sei mais escrever

Tento acordar a cada instante

Lembrar o que é viver

Quis voltar a ser eu

Este eu que nunca fui

Que não chora nem late

Não corta as veias para morrer

Lembro-me dos dias maus

Como se fosse agora

Lembro-me de não dormir

Esqueço-me de me amar

Recordo o perder e o não ter

O não saber guardar

Do mal e do desimportante

Não aprendi a me afastar

Vivo tudo dentro de mim

Como um nada que me enche a alma

E esvazia o coração

De tanto querer esquecer.

Widralino
Enviado por Widralino em 20/06/2018
Código do texto: T6369351
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