A felicidade não é pra gente

A gente levanta cedo, trabalha, se cansa bem mais do que deveria, volta pra casa, se cansa ainda mais, dorme e no outro dia tudo de novo.

A gente bebe cerveja gelada e come churrasco, a gente ri no meio dos amigos, conta piadas, faz gracinhas e as vezes até arrisca uns passos de dança. Mas lá no fundo, bem no fundo, escondido de todo mundo, lá no íntimo da gente, aquele íntimo que a gente só abre para a poesia, a gente é triste, a gente é bem triste.

A gente chora enquanto volta dirigindo pra casa e mente pra gente mesmo que é por causa da música triste.

A gente coloca a culpa na TPM, no relatório que deu errado, no sistema que não colabora, na internet que cai toda hora, mas no fundo a gente sabe que não é.

A gente diz que gosta de ficar sozinho pra descansar a cabeça, mas no fundo a gente não aguenta é fingir ser feliz o tempo todo.

A gente vai levando, a gente vai aguentando. E quando as coisas dão errado a gente sofre, mas a gente não se surpreende mais.

A gente ama, a gente ama muito, ama dolorosamente além do que deveria amar. Mas a gente sabe que o amor da gente assusta os outros. A gente sabe que não vai durar, mesmo que a gente não queira acreditar.

A gente não quer mais ser otimista, porque quando falha dói ainda mais. A gente tem medo de ter esperanças, pois a gente sabe que a esperança dilacera o coração da gente.

A gente já tá cansado. A gente queria ser diferente, mas a gente não consegue.

A gente vai levando e vocês nem percebem. A gente vive no meio de vocês e vocês nem sabem, vocês não vão saber pois a gente ainda tem a poesia.