Não chore, ó Dara

Não chore, ó Dara,

Mas, caso a lágrima insista

Em hospedar-se nos teus olhos,

Deite-a em versos,

E recobre de poesia.

Ser-lhe-á fiel anfitriã;

Oferecer-lhe-á a tristeza e a mágoa,

Do rancor e do ódio à paixão e ao amor,

Necessários sejam para que conforte-se

E sinta-se lar antes que a despeje.

Das mãos em que morre seguirão vestígios,

Vultos físicos do que de dentro os motiva;

Efêmeros senão por essência.

E não te importa, Dara,

Pois também hão de esvair.

Passageiro como tu é o que choras,

Significante do lamento é apenas ti.

Em que tudo seja breve, de que te valem

Apenas as cessantes lágrimas,

Se de delas nada resulta?

Ainda que mais verão deite-se a sete palmos,

E menos inverno esqueça-se das coisas de mundo,

Sê breve, mas fica:

Pois morres tu, Dara que chora,

Mas conserva-te, Dara que cria.

Brunno Freire
Enviado por Brunno Freire em 22/08/2018
Reeditado em 09/06/2022
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