Não chore, ó Dara
Não chore, ó Dara,
Mas, caso a lágrima insista
Em hospedar-se nos teus olhos,
Deite-a em versos,
E recobre de poesia.
Ser-lhe-á fiel anfitriã;
Oferecer-lhe-á a tristeza e a mágoa,
Do rancor e do ódio à paixão e ao amor,
Necessários sejam para que conforte-se
E sinta-se lar antes que a despeje.
Das mãos em que morre seguirão vestígios,
Vultos físicos do que de dentro os motiva;
Efêmeros senão por essência.
E não te importa, Dara,
Pois também hão de esvair.
Passageiro como tu é o que choras,
Significante do lamento é apenas ti.
Em que tudo seja breve, de que te valem
Apenas as cessantes lágrimas,
Se de delas nada resulta?
Ainda que mais verão deite-se a sete palmos,
E menos inverno esqueça-se das coisas de mundo,
Sê breve, mas fica:
Pois morres tu, Dara que chora,
Mas conserva-te, Dara que cria.