FATIGADO

Tenho cansado...

Eu não taquei pedra cruz! Eu juro!

Tudo bem...talvez na vida pretérita eu tenha profanado o sagrado,

Virado a cruz ao contrário...não sei.

A verdade é que há momentos que me sinto vazio de mim, perco-me e não sei o que sou, para que estou e para onde caminho... apenas existo, com ou sem razão de assim ser...

Sinto-me um sonhador, cujos sonhos não atravessaram os anos e apenas alimentam o devaneio e pensamentos de que amanhã... ah...! o tão esperado amanhã! O sonho se realizará (talvez tenha tirado os pés do chão há tempo) e quando percebo, em mim, o sonho já se perdeu novamente, esvaziando-se como um saco de laranjas podres, rasgado (eu o vejo líquido escorrendo da palma das mãos)...e então deito-me o corpo, para pegar as parcas migalhas... me alimentar enquanto caminho...

Outrora, percebo-me anjo, sem asas para ostentar...ou como um pássaro sem ânimo para bater as asas e alçar o voo, contente com as grades de uma gaiola, com pouco cômodos e sem muitos aconchegos...

Vejo-me num quadro, bonito, cuja obra requer fineza para se avaliar... mas estou imóvel, sem condições de mudar as cores, contentando com os céus acinzentados de parcas nuvens em formatos de algodão e um sol para aquecer um pouco...mas sem muitas flores na paisagem.

Dentro de mim, tenho sido inconsistente – indeciso, não raras vezes mudo deixo para trás, outrora, quero levar comigo...e nesse vai e vem a alma torna-se densa e pedante de si mesma

Queria por um minuto voltar ao ventre – desfazer o caminho e começar de novo.

Queria traçar um plano infalível e não decepcionar-me mais, ao menos em minhas frenesis que também já caminham falidas...

Porque tenho que a falibilidade é inerente – mas não quis entender, porque cheio de sonhos e projetos e anseios e vontades e esperanças, mas inevitavelmente, falhei e quando o fiz estava de pés descalços... e quando o fiz – senti a queda da falha, quando o fiz senti-me humano...

E quando o fiz não quis falhar de novo (mas inevitável).

E de há muito perdido entre o tênue universo de sonhos e picos de realidade – anseio apenas caminhar devagar diligente em meus passos, para que os pedregulhos e espinhos que marcam os pés na estrada possam ao menos caleja-los e assim a dor amenizar.

Eliezer Teodoro
Enviado por Eliezer Teodoro em 11/09/2018
Reeditado em 11/09/2018
Código do texto: T6446072
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.