ALMA DE ICEBERG

Fora doce e meigo na juventude,

Mas a vida foi tirando-lhe tudo ,

Então fechou-se a ela e disse-se feliz,

Sorriu aos que ainda lembravam-se dele,

Certo de que oferecia-lhes um simulacro

De si, conquanto tivesse de ser assim.

Os dias passavam enfadonhos, sempre só,

Carregando sobre as costas toda a culpa,

Ele não prestava, era uma fonte contaminada,

Ninguém beberia de sua água de deserção.

Evitava olhar para o passado de fartura

De sorrisos e abraços aconchegantes,

Os entes queridos que partiram, o grande

Amor que abandonou-o, os fracassos pessoais,

A sede pelo amor alheio agora superada

Com noites frias, nas quais contempla paredes.

Brigou com a cadela, expulsou-a de

Dentro de casa furioso e dormiu.

Ao acordar, deixou-a entrar, recebeu

seus carinhos e chorou, chorou, chorou...

Camilo Jose de Lima Cabral
Enviado por Camilo Jose de Lima Cabral em 07/10/2018
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