PERCEPÇÃO

Olhou para o ponteiro do relógio

E não viu qual a hora marcada

Até por que naquele instante

Não existia mais nada

Buscou na areia da ampulheta

Saber quanto tempo restava

Mas naquele momento isso

Era algo que não importava

Já sentindo um pequeno medo

Enfiou o olho direito na luneta

Tudo opaco, escuro, embaçado

Sua retina já não enxergava

Tirou a velha bússola do bolso

E ela girava do norte pro sul

Ela rodava de leste ao oeste

E pra nenhuma direção apontava

Andou até o tabuleiro da sorte

Pegou os dados, segurou forte

Jogou e não era um, dois ou três

Nem quatro, nem cinco, nem seis

No calendário apregoado na parede

Marcava o dia, mas não tinha o mês

Viu a chuva adentrar a janela e molhar

Relampiou mas não ouviu o trovejar

Apertou vagarosamente o interruptor

E num único flash a luz se apagou

Sentiu se sozinho em plena escuridão

E em profunda solidão ele se deitou

Percebeu que não estava vestido

Percebeu que o chão estava gelado

E com o coração e o corpo despido

Percebeu que sem o seu grande amor

Nada mais no mundo lhe fazia sentido