CARTA
Estremece a deserta solidão
Oprimida ao vento a destilar
gotas penosas de esmorecimento...
Entre as paredes invisíveis d'alma
há sombras de incerteza, vida que trai,
Vida que mente, ah, minha ilusão...
Reflete um grito em face do mundo!
Inverno doentio...
Primavera de lamentações...
Rosas negras proliferam o pesar
doentio dos corações...
Há um céu por entre a cinza
A vergonha carrega o velar para
O silêncio que se refugia
entre as plumas douradas...
Um anjo de Deus caiu
como as gotas de chuva!
Pálida safira...
Por entre o azul celeste dos montes
inda sonha e adormece no teu
leito... Um leito de luz incerta.
Na desafinada melodia,
há verdade sobre a cinza,
o dançar oculto das sombras
sim, formam chamas n'alma.
Ah, império trajado de luto,
Tão delicado...
És hoje, sem passado, sem presente,
sem futuro.
Queimo-me ardentemente.
Sei, a dor há de adiantar este voo em mim!
Saiba, pois... Se, a frágil fidelidade desencontra-se
da confiança, o desejo,
o deserto revoarão para longe,
para perto, para longe de mim e perto de ti...
Pousa este coração...
Pousa o coração de alegrias e dores,
ele foge de um mundo frio e cruel
como se o tempo fosse o mesmo infantil...
Eu vi...
Vi que as lembranças fugiram para aquele
umbroso recanto.
A vida roga por essas solidões que só enfloram...
Enfloram...
Sepultei a doçura d'alma.
E... Desaprendi o que antes era amar...
Óh, pai!
Construa-me enquanto o amo,
Dai-me colo para as lágrimas.
Nestas estações melancólicas a ternura do meu coração
há de um dia sentir o quão pura é a alegria!
Veja que há sombra de beleza,
No entanto, em minhas asas há... A mais lúcida tristeza.
Padece sobre os gritos deste silêncio,
segredos sussurrados em vão...
Revisto-me com o véu de Tereza*,
-Tu bem sabes!
Tu vês... Que o meu coração também é um sacrário,
sangrando e chorando no abismo profundo que tu me guardas!
Ah, deploráveis são os sentimentos meus,
deixe-os adormecer nesta cova pestífera e mística.
És um pesar doentio...
Assim sabes... Os sentidos encontram a negrura
na penumbra de horrores
Veja... São profundezas!
Essa alma espera o sabor dos sorrisos,
O pairar doce dos suspiros de amores,
O inverno de uma forma calorosa,
O puríssimo amor que desfalece vão pelo infinito!
Foi o amor amado em vão?
Pudera, pois vi o abismo, a escuridão...
A vida exilada em mim!
Pálida e morta almejei o céu,
Este é o meu coração...
Transbordado de lágrimas, mares e horizontes.
Eu... Despeço-me dos cantares,
Desta noite em teu colóquio.
Assim como o orvalho que afoga as flores,
minh'alma navega...
Navega pelos temores sombrios à perfeição,
ao cantar humilde dos santos!
Toda a fé, toda a esperança...
- A morte interior como jamais desejei.
Ah, oceano de misérias...
Pai...
Sob o véu de Tereza,
deixe-me nunca ver o sol...
'Sempre me encontro entre a solidão'...
Nessa escuridão lacrimosa,
Entre versos e rosas o meu coração irá dormir,
E, na luz sei, regozijarei do amor puro,
da alegria e da paz...
Que neste mundo não encontrei!
16/11/2012