o idiota
receio que não lhe conheço mais:
não são as mesmas mãos que seguravam as minhas,
a voz não é a mesma, doce e afável;
agora tem um tom até mais brando, mas arrastado,
como se tivesse preguiça de dizer as palavras...
receio que não enxergo mais o brilho nos seus olhos,
nem sinto o abraço do mesmo jeito pleno que ele era -
aquele abraço pra onde eu corria sem medo, sem reservas,
e me sentia protegido, intocável pelos males do mundo afora.
receio que não tenha mais vontade de me ver:
de marcar nossos encontros semanais,
de ligar no celular por vídeo
(te ver no escuro era tão especial pra mim)
(te ver chorar me rasgava o coração)
(te ver sorrir era como ter um milhão de razões para ficar)
receio que não sinta mais desejo
(e este nem me era o principal)
porque eu tinha tudo com você:
tinha o ombro pra chorar meus dramalhões,
tinha o colo pra descansar meus anseios,
tinha o abraço (ah! o abraço!) que me tirava todo o peso das costas,
tinha os sorrisos pra enfeitar meu dia cinza.
receio que não lhe conheço mais:
seu rosto, seu semblante me diz
vá em paz.
12 do 12 de 2018