Íntimo

Falo de mim, tudo pr'a mim refala;

A tarde branca humildemente cala

A voz canora e tão gentil do vento

Que faz calar também meu pensamento.

E segue a vida “a Meretriz na igreja"

Com negro véu que no meu seio adeja.

Tudo traduz sofreguidão e prece,

E a minha dor humildemente cresce.

Eu quis na Terra ter amor e ninho;

Cedo Eu perdi asas de passarinho...

Jesus seguiu-me os passos, lado a lado,

Mas de marfim, e não ressuscitado.

Sorvi do vinho a taça, amarga uva,

Um negro vinho: cores de viúva...

Tudo traduz sofreguidão e prece,

E a minha dor humildemente cresce.

Eu durmo pouco e sempre estou cansado,

Sinto em meu corpo dores de finado.

Findou-se a tarde; a noite está presente,

Mas algo diz-me de um amor ausente.

E esse pesar me gera um desconforto

Como um jardim sem flores; todo morto.

Tudo traduz sofreguidão e prece,

E a minha dor humildemente cresce.

Quero sonhar! Ter planos! Ter desejos!

Ser despertado com milhões de beijos!

Abrir os olhos, ter feliz visão:

- A face dela no meu coração!

Mas me desperto isento dos amores

Com pesadelos, mágoas e terrores.

Tudo traduz sofreguidão e prece,

E a minha dor que humildemente cresce.