Janela cor de abóbora

Foi pela janela cor de abóbora em que ela observou sua mãe entrar naquele carro com muitas caixas na mão sem olhar pra trás.

Ela não chorou.

Ela não correu as escadas.

Mas foi lá embaixo que, com os olhos marejados, ela abraçou seu pai.

Foi pela janela cor de abóbora que ela viu uma bola bonita no gramado bem aparado de casa.

Ela saiu para pegá-la, mas o garoto da casa ao lado não deixou.

Ela não chorou.

Ela não correu para dentro de casa.

Mas lá fora, após cair no chão com um empurrão, seu pai a abraçou.

Foi pela janela cor de abóbora em que ela viu uma linda garota e sem saber ou entender se apaixonou.

E foi pela janela cor de abóbora que ela a viu trair.

Ela não chorou.

Ela não correu para seu quarto.

Mas seu pai a abraçou.

Foi pela janela cor de abóbora que em um dia ruim e aos seus 16 anos de idade, que ela fugiu para uma festa.

Mas ao chegar viu a decepção no rosto do pai.

Ela não chorou.

Ela não correu para a cozinha.

Mas ela abraçou seu pai.

Foi pela janela cor de abóbora que ela via a neve cair no quintal sobre o túmulo do seu melhor amigo.

Ela não chorava.

Ela não corria para o banheiro.

Mas seu pai a abraçava.

Foi pela janela cor de abóbora em que ela olhava para as estrelas pela centésima vez enquanto perdia a força de lutar contra o peso do pai.

Ele a abraçava.

Mas pela primeira vez, olhando para a janela cor de abóbora que ela sentiu vontade de chorar e sair correndo.