Talvez amanhã...

Amanhã pode ser um dia bom

Mas ninguém pode me garantir

Amanhã talvez possa ficar, ou fugir,

No amanhecer,

Daquilo que não sei entender...

Amanhã, é, talvez esquecer...

Que as coisas não foram com eu quis

Que os planos

Que fazemos

Não somos nós que os executamos

E que uma força contínua

Está sempre nos dominando,

E vamos por onde nem pensamos...

De repente a árvore seca as folhas

E no rosto secas desertificam o olhar,

E sem saber por aonde vamos,

Às vezes bate um desespero,

E eu, eu particularmente,

Sinto uma imensa vontade de chorar...

Eu olho pros lados

Há pessoas em todo lugar,

E desvio os olhos

E me desviando delas

Eu vou a caminhar,

E sigo um caminho

Impulsionado por uma vontade

De me dissipar...

E quando isso acontece

Faltar o ar é o que parece

E eu levanto a cabeça

E olho pro céu

E espero a noite chegar...

Fico admirando a beleza

Da ordem desordem das estrelas

À infinita distância,

A distância que não posso alcançar...

E tudo se transparece

E penso que encontrei

O porquê daquela vontade

Que me fez me distanciar

Daquelas pessoas tão boas e normais

Que estavam a me cercar...

Olhando o céu daquele jeito

Tantas estrelas a brilhar,

Uma luz que vem de tão longe

De um passando que não se pode alcançar...

Eu penso que entendi

Eu penso que me compreendi

Pelo menos ali

No meio-fio de uma calçada

Numa rua erma

Sem a possibilidade

De passar ninguém...

Nem na Estrada do Arroz...

Nem mesmo um gato noturno

Daqueles de cenas de terror,

Apenas eu ali,

Ali no escuro penso me identificar,

Não com o brilho daquelas miríades de estrelas,

Mas com a escuridão

Que está a separá-las,

A torná-las raras,

Porque, se olhares bem,

O céu

Não seria tão lindo

Se não fosse a imensa escuridão...

E às vezes é nisso que penso,

Que também é assim meu coração.

É, amanhã talvez seja um bom dia,

Um bom dia para tudo terminar...

Sebastião Alves da Silva
Enviado por Sebastião Alves da Silva em 23/09/2007
Reeditado em 03/01/2023
Código do texto: T664875
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