Homem opaco
Os segredos subliminares
Escondem-se atrás da
Face de qualquer ambiguidade,
Desconheço-os ingênuo
Ao não querer ver que
Estes são apenas minhas
Verdades autocensuradas.
Feito de barro
Por dedos desapaixonados,
Coração esculpido
De frágil porcelana,
Oco e já um pouco
Rachado em sua
Desgastada superfície.
Ando na chuva,
Desfaço em partes
Ao transpirar palavras
E inalar aquelas que
Inspiram as minhas
Ditas e escritas.
Alarmado pelo perigo
Em que decidem as
Ondas de som
Afastarem-se à
Solidão que resta
Em toda a atmosfera
Num silêncio de
Supérfluo propósito.
Sonambulando os passos
Até reencontrar a consciência
Que perdera ou que
Nunca fora moldada
Dentro de si.
Dominante permanece
O mistério e suspense
Mesmo sabendo a resposta
Sobre o fatídico destino
De tudo o que um dia amou
E teve como beleza concreta.
A reconstrução
Do que viveu,
A cena do crime
Refeita a partir
De todas as pistas
E evidências constantes
Vivas ainda em
Pedaços internos
Alienados de nostalgia.
Em colapso,
Lapso contínuo
Em que se mostram
O movimento dos segundos
E a cor do ar disperso
Juntando-se ao fôlego
Que lhe escapa dos pulmões.
Uma imagem de uma
Natureza ferida
Apaixonada por sua
Intangível empatia,
Retribuindo ao que
Fora-lhe demonstrada
Em versos de adoração.
No sonho em que se integra,
Na utopia em que
Abre mão da lucidez e se entrega.
Ilusões como anestesias
Para conviver com
A calculada e precisa dor,
Perdendo a senciência
Como todos os outros sentidos
Esvaídos do corpo.
Enquanto inefável é
O transbordar de
Seus sobrecarregados
Fragmentos de sentir,
Sua confusão
Torna-se a única
Certeza crível
A ser vista nas
Miragens de futuro.
Da exata maneira
Seu ponto do início
Começara subitamente,
Seu fim derradeiro
Expira em um suspiro.
Homem distinguível,
Homem ordinário,
Homem descartável.
Vivendo em sua caverna,
Vivendo por sua distração,
Vivendo com sua tragédia.
Apenas vivendo sem ser,
Apenas um homem opaco.