Constituição

Suponho dizer que as coisas concretas não me inspiram.

Como as pessoas andando sempre iguais

O quanto são mais cruéis do que os animais

Nada me inspira.

O cantar dos pássaros

A alvorada de muitos deles ao amanhecer

Absolutamente nada disso faz eu escrever

As palavras surgem

Mas fogem!

Estão cansadas dessa margem branca

Estão exaustas de serem só estanques

Revoltadas elas gritam, borbulham e fogem.

Por que afinal nada me inspira?

O beijo no pescoço

O abraço gostoso

O calor dos lábios amados

O fervor dos segredos guardados

Nada, instintivamente nada me inspira!

Buk, disse que nunca se deve escrever por obrigação

E adotei essa lição.

Depois que fiquei sem inspiração

Subverti-me as dores presas no coração.

as calcifiquei nas minhas vértebras

as silenciei nos sinais não interpretados

Tudo virou atos banais

Sem inspiração alguma

Fiquei presa a uma personagem sem poesia nenhuma.

BranquelaAquarela
Enviado por BranquelaAquarela em 22/12/2019
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