CHEGA UM TEMPO

Chega um tempo,

Em que não importa se amarrotou a camisa,

Ou se pisaram no bico do meu sapato.

Não incomoda tanto,

O barulho do som do carro do vizinho,

Ou a dificuldade em remover,

A gordura das bacias de plástico.

Chega uma hora,

Em que você para de correr tanto,

E decide contar quantas folhas tem tal árvore,

A árvore que os cães mijam.

Num dado momento da vida,

Você deixa o celular no silencioso,

E se ligarem,

Só atende depois do terceiro toque da segunda ligação,

Pois se for urgente, vai retornar.

Chega um tempo,

Em que a ruga do rosto não é tão feia,

A mesma janta, o mesmo almoço,

Tem um gosto diferente.

E a opinião dos outros não tira mais o sono.

Nem a segunda conta atrasada.

Nem a mancha que ficou na roupa.

Chega o dia,

Em que não se tem mais pressa em ler aquele livro,

Só pra mostrar que leu.

Ou assistir todos os filmes,

E maratonar todas as séries.

O momento chega,

Em que você pode olhar nos olhos,

Pede perdão com mais facilidade,

Se irrita com menos frequência,

E faz das críticas negativas algo construtivo.

E ri dos próprios erros.

Aaahh. O dia vem,

Em que não se tem mais vergonha em dizer:

"Me abraça!"

Ou que os resmungos da sua família não passam de poesia mal interpretada.

Ou oportunidade pra treinar a caridade.

Chega o tempo,

Em que tudo isso acontece.

Quando a ficha cai,

Então chega o tempo,

Em que se descobre,

Que não há mais tempo.

Leandro Severo da Silva
Enviado por Leandro Severo da Silva em 05/02/2020
Reeditado em 05/02/2020
Código do texto: T6858533
Classificação de conteúdo: seguro