Versos em Chamas

Comemore, saltitante sobre meu corpo

Não me resta mais nada

Os versos que fiz quando estava afoito,

Agora estão chorando, me cortando como uma adaga

Acabe logo com isso, me mate, dê um jeito

Estou morrendo enquanto me arrependo

Arrependo do dia que escrevi para você

Arrependo de ter me deixado viciar em seu beijo

Choro agora, implorando para que Deus me ajude

Faça-me esquecer, te esquecer, me cure

Não sei mais qual a diferença entre medo e desespero

Apenas me mate de uma vez, não me torture.

Aquela tal Dama nunca existira

A criei, apenas para romantizar em sinfonia

Mas, agora penso em queimar página por página

E soprá-las, em cinzas, para longe, cada palavra

Cada verso que dediquei e talhei por todos esses anos,

Foram para uma musa imaginária, quanta fantasia

Uma verdadeira ninfa, linda, mas, em volta de enganos

Chorar é a única passagem visível no momento, pobre caderno

Pobrezinha da caneta, fora usada tantos dias

Enfim descansará eternamente, pois de ti me despeço.

Talvez esta ilusão consiga me derrubar

Mas, não se preocupe, caderno meu

Pois, deixo dentro de ti, meus sentimentos ilusórios

Para que talvez, verdadeiros amantes te devorem, caderno meu.

Quem sabe um dia eu o leia novamente

Ou talvez, você se torne uma lembrança,

Para que eu não me esqueça dos erros

Posso não ter amado aquele amor de aliança,

Mas, eu imaginei romances, por isso não me culpe

Caderno meu, as lágrimas impedem que eu lute

E, já estou cansado, cansado de romantizar o inexistente

Cansado de poetizar sem uma luz no túnel a me guiar

Caderno meu, lembre-se de como eu era, sorridente

Não grave meu rosto molhado, não me veja chorar.

Dama, quem um dia criei como utopia

Como a amada, como a prometida

Mas que, ao ser dada ao tempo, tornara-se Dalila

Poesias, rimas, tudo para ela, todos os meus dias

Mentiras, farsas, tragédias em sincronia

Cada texto meu fora um engano, mais quantos terei este ano?

Estou aqui, cinco da manhã, sustentado pelo energético

Sem dormir, querendo conversar contigo, caderno meu

Empurre-me de um prédio, talvez assim eu enxergue uma nova miragem

Necessito de algum remédio, chega de donzelas nulas de sinceridade

Se eu queimasse essas folhas, o fogo viveria poucas horas

Quatro anos reduzidos a horas, que tristeza

Devo ter deixado a felicidade ancorada em um porto longínquo

Talvez eu me perdi, levado pela correnteza,

E acabei parando em um hospício, para aqueles que acreditam

Amor, cumplicidade, confiança, um vínculo eterno

Mas, tudo que eu encontrei foi o gélido término.