Fluídos de amor


Eflúvios da boca beijada
salpicam o agreste
na hora tão despreocupada,
no canto da vida,
à sombra do cipreste.
E ao ponto do ocaso,
no momento tão triste,
talvez por encanto
ou mesmo por acaso
rola na saudade o pranto,
molha a alma, banha o corpo,
fala de amor, grita de paixão,
semeia e tinge o chão.
E no sonho repousa o espanto
de viver, sorrir sem esquecer,
falar, cantar, no entanto,
respeitando sua vida,
comendo sua comida,
vivendo sem causas para viver.
E da boca que ressoa o eco,
a falta do beijo,
o momento certo
atinge o cume e faz desperto
o real abismo que se abre,
o escuro que fecha a luz,
o peso sombrio da cruz.
E se o mundo convida a dor,
lamento pelos amores,
pelo desperdício da saudade.
Peço a Deus para que não exista amor.