Quis existir…

Quis existir nos que existiram antes da sua presença,

Talvez aglutinar em mim a vida dos mortos sem voz,

Dar-me em oblação aos deuses da vida e da liberdade,

Salvar crianças carregadas de insidias pesadas deste viver.

Agora sinto lentamente na minha bestial existência,

A dor dos que existem na consciência da sua ignorância,

Fingindo não ouvir a in-fingível dor, muito gritante,

Das crianças já perdidas na esperança do melhor.

Sinto ainda este latir das vozes desérticas,

Já sem vida nem morte nenhuma em frente

Por já terem morrido no deserto de suas lamentações.

Sinto os infindos gritos que com sangue brindam a terra,

Os brandos dos rebentos brotados do sangue derramado,

Nesta esperança que se vai perdendo com a morte insensata,

Das crianças que gemem como a pomba da barca de Noé.

Manusse Jose
Enviado por Manusse Jose em 13/08/2020
Código do texto: T7033937
Classificação de conteúdo: seguro