O que resta
O que resta
Todo bom curva de rio não se deixa abater,
vai pro próximo cigarro, pro próximo trago,
mas não se deixa vencer.
Não se mostra abatido, mesmo que caindo,
vai sempre subindo, seguindo.
Em frente mesmo quando o caminho é esguio,
segue torto, trançando perna,
mesmo sabendo que bebendo,
parece que nada presta.
Se afunda no café pra curar ressaca,
secando aquela mágoa mal guardada,
transformando em pó o que a madrugada o aguarda.
Vai morrendo, de sono, de insônia,
de amargura e sombra,
esperando ares novos chegarem.
Não se cuida, aliás, quando o faz,
ainda é mal feito,
deixa os dentes apodrecerem,
cede ao cigarro e à bebida, às drogas que a vida lhe envia,
e olha que não falo daquilo que Jah enviou,
mas sim daquilo que o ministério aprovou.
Segue sozinho, mais uma vez o velho imundo apanha,
sofre daquilo que a vida dá e tira,
deixando só o pó das lembranças,
e as traças que ficam para trás.
Se esconde atrás de telas, de janelas, de porta balcão só de cueca.
Perdendo peso aos olhos vistos,
secando feito samambaia velha,
ganhando só o peso que não presta.
Ah meu velho safado,
o que a vida ainda lhe resta?