A Catedral

Meu coração tem catedrais imensas...

Augusto dos anjos

A Catedral

Do ventre dum vulcão morto,

Brota um insólito sinal.

Adoece, nos olhos da noite,

Uma estranha catedral.

Na vertigem do verso

A catedral de melancolia.

Verte lágrimas velhas,

Regatos de cinzas frias.

Anjos de névoa passeiam,

Com vestes de vitral.

Cochilam cristalizados

Num jardim negro de caos.

Espectros vãos atuam

Em teatros de absurdo.

Ceifam no céu da carne

Astros de brilho turvo.

As areias do Tempo,

Fogem na escuridão.

Em montes de chagas

Que jamais cicatrizarão.

Orando escondido no altar,

O sacerdote do medo

É cansado construtor,

Condenado, ao eterno degredo.

Jogo em jardins de joio

O viçoso trigo da crença.

A um deus cruel construindo

Templo, à sua presença.

Quem erigiu este templo

Pintou tudo de solidão.

Catedral triste da crença,

Escombro de meu coração!

Luis Felipe Saratt
Enviado por Luis Felipe Saratt em 24/10/2007
Reeditado em 05/10/2008
Código do texto: T708433