A Catedral
Meu coração tem catedrais imensas...
Augusto dos anjos
A Catedral
Do ventre dum vulcão morto,
Brota um insólito sinal.
Adoece, nos olhos da noite,
Uma estranha catedral.
Na vertigem do verso
A catedral de melancolia.
Verte lágrimas velhas,
Regatos de cinzas frias.
Anjos de névoa passeiam,
Com vestes de vitral.
Cochilam cristalizados
Num jardim negro de caos.
Espectros vãos atuam
Em teatros de absurdo.
Ceifam no céu da carne
Astros de brilho turvo.
As areias do Tempo,
Fogem na escuridão.
Em montes de chagas
Que jamais cicatrizarão.
Orando escondido no altar,
O sacerdote do medo
É cansado construtor,
Condenado, ao eterno degredo.
Jogo em jardins de joio
O viçoso trigo da crença.
A um deus cruel construindo
Templo, à sua presença.
Quem erigiu este templo
Pintou tudo de solidão.
Catedral triste da crença,
Escombro de meu coração!