Chorar

Eu quero chorar.

Eu quero tanto, mas eu não consigo.

Por mais que eu tente, por mais que eu me esforce, eu não consigo

Nenhuma lágrima sai de meus olhos, elas se recusam veemente a deixar seus asilos, bem como eu me recuso a deixar minha zona de conforto.

Eu quero chorar.

Quero tanto! Sinto que aliviaria muito do peso que tenho sentido em meu peito.

Sinto que lavaria para fora de mim todas as impurezas que, com violência e sem piedade, enfiaram dentro de meu coração aqueles que um dia eu amei como um cão ama seu dono.

Eu quero chorar.

Meus olhos ardem com a secura de uma vida sem lágrimas, com o peso de uma alma orgulhosa e supostamente forte.

Com um coração coberto por chapas do mais impenetrável metal que existe, resistente a qualquer tentativa de aproximação por medo de ser quebrado novamente.

Eu quero chorar.

Nunca quis tanto na minha vida...

Meu coração implora para que eu chore, minha alma anseia pelas lágrimas, anseia pela liberdade do sofrimento sem represálias, pela exposição da dor através do choro ao invés das palavras.

Eu quero chorar.

Juro que quero! Mas a minha personalidade naturalmente lógica e orgulhosa insiste na ideia de que não há motivo para isso.

Insiste que o choro é somente para casos extremos.

Insiste no medo das perguntas que o choro traz, no medo da reprovação vinda daqueles que tiverem o vislumbre da imagem dos olhos vermelhos e inchados de quem chorou por horas.

Eu quero chorar.

Quero muito, mas minha mente continua dizendo que não vale a pena, que nada de bom vai vir disso, que não existem motivos para isso além do drama.

Não basta o meu coração estar em pedaços, eu estar sofrendo terrivelmente com a solidão, a minha alma estar suplicando por afago e carinho, ou simplesmente companhia.

Não. Isso jamais vai ser motivo suficiente para desperdiçar lágrimas.

Não para o Pequeno Rei!

Eu quero chorar.

Sim, quero. Mas não consigo. Invejo vocês que conseguem.

Eu só queria chorar...