Nihil

O pensar sem mote é viciante,

Apenas um não pensar constante,

Do nada faz-se objeto, paradoxalmente;

É o existir não existindo,

Se a licença lírica me é dada,

Vivo, suponho, estando porém ausente,

Contando os minutos de um dia por vez,

Na fuga de um mundo sem escapatória,

Cuja memória é a saudade do que não se fez.

Nos arredores desérticos da mente,

Somente o nada é permanente,

Nada me atrai neste instante,

Nada que interesse ou levante,

Apenas o nada grassa abrangente,

O branco-nada ofuscante,

A revelar que nada é importante.

Quisera saber como agir,

Poder sublimar tal sina, ou sumir,

Quem sabe até corrigir

O rumo dessa estranha sorte,

Mas dessa esfera não há saída

Nem mesmo sobrevindo a morte,

Pois atrai atenção todo defunto,

E o nada que ora destroça já não suporta,

De qualquer forma, tornar-se assunto.