Dois anos depois

Se numa manhã

eu lhe propusesse roubar um banco

e levantar uma prata

pra não precisarmos mais vender

nosso ócio a preço de batata,

seus olhos pegariam fogo

e pela noite

o plano estaria pronto.

Se numa noite

de viagens literárias

entre nossas transas, surgisse

a ideia de derrubar o governo e decretar

pra todo mundo ser feliz,

faríamos amor de novo

só pra comemorar.

E se depois já adormecidos

esgotados até a última gota

noturna do prazer,

em sonhos nos procurávamos

e despertávamos com nossos

corpos atracados

como o mesmo frenesi de toda vez.

E pelo novo amanhecer

no vapor carinhoso do café

nossos olhares já combinavam

atrasar a volta pra vida comum

sob o pretexto de uma desculpa qualquer.

Mas agora condenado pela mesma

falta de justiça de outrora,

só me resta tentar propor

ao tempo e ao luto

que sejam gentis e breves,

mesmo sem nada,

além de solidão,

para oferecer em troca.

Márcio Filho
Enviado por Márcio Filho em 28/01/2021
Reeditado em 03/03/2021
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