Abstração de uma vida

Temo em velho ficar

E alheio a tudo e a todos.

E em não saber quem um dia

Fui nos ensejos da existência;

Em não poder compreender mais

Os sublimes versos que um dia tracei

Aos delírios dum amor tórrido e insano;

Temo em folhear meus livros

E no meio de suas vetustas páginas

Uma fotografia nublada nossa:

Abraçados e, porém, felizes:

E olhar e olhar e tentar decifrar

O crivo cruel do tempo

E não saber atinar quem tu foste em minha vida

E aquele jovem ao teu lado um esquecido eu

Em nossa perpetuidade lograda do tempo e da morte.

Luciano Cordier Hirs
Enviado por Luciano Cordier Hirs em 28/04/2021
Código do texto: T7243795
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