Gostaria...

Gostaria de não ser nada

Coisa alguma nascida

Uma poesia perdida

Coisa alguma notada...

Se assim eu fosse

E, se nem eu percebesse

Se eu dormisse se não acordasse

Para o coma irrevogável adentrasse

No irreversível eu descesse...

Sou tristeza, o filho da dor

Mas, que importa quem sou

Alma expiada, a semente mal plantada

A côdea, o cáustico que o infortúnio criou

Desabitado, quimérico, exterior...

O engodo das significâncias

A quase indisfarçável obliteração

O póstumo que ninguém notou

O desacerto da concepção...

O inservível, aquilo que soçobrou

O resíduo disperso de um grito

O vazio que a chama queimou

Sou eu, o fardo, a aparência enganosa

O esquecimento do Criador...

Sou a preguiça do sepultureiro

A impostura do pesar profundo

A resposta do irretorquível assunto

A vaga que o caos ocupou

Sou desvalia, sou indizível

A veia que não pulsa

Aquilo que agora se chama repulsa

Que de forma indiferente... A própria morte negou