É isto meu amor

Em silêncio respeito a tua voz

Estática permaneço na mudança atroz que me trouxeste

À vida

Ao olhar

E a este ar inerte e alma melancólica…

Fico aqui,

Corpo presente, alma ausente,

Coração em viagem

Ainda vivo

Preso ao teu num tempo que já seguiu caminho ,

Um caminho distinto do meu

E no meu, meu amor

Não existem jardins imensos, apenas lamaçais

Não há árvores de fruto, somente folhas secas

Sem grãos de milho que me indiquem caminho.

No meu, meu amor,

Não há nada

Apenas um vazio imenso

Um frio que me perturba

Umas sombras que me deixam louca

E vozes que me enganam e perturbam.

No meu, meu amor

Nem pedras há para que eu caia e me levante

Mãos para que eu me agarre

Bengalas ou suportes para que eu me segure.

Não há neve

Nem há mar

Isso era no tempo dos sonhos

No tempo que ainda eu via através de uns olhos verdes

Num tempo que hoje até a memória me roubam.

É isto meu amor,

É isto o meu destino

Tão só,

Tão triste e lúcido

Porque me perdi de ti

Largámos as mãos à força sem explicação

E os nossos caminhos tão hoje distantes

Hoje eu vejo sozinha a terra

E tu, anjo que outrora me embalou, vês o céu!

Joana Sousa Freitas
Enviado por Joana Sousa Freitas em 20/11/2005
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